A atomoxetina tem ganhado destaque como uma excelente alternativa para o tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Ao contrário dos medicamentos utilizados no tratamento de primeira linha do TDAH, como Ritalina (metilfenidato) e Venvanse (lisdexanfetamina), a atomoxetina não é um fármaco estimulante e tem baixo risco de dependência, tornando-se uma opção para pacientes que apresentam reações adversas aos medicamentos estimulantes para TDAH.
Em julho de 2023, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou o registro do medicamento Atentah (atomoxetina), da empresa Apsen Farmacêutica. Desde então, muitas notícias têm sido veiculadas, relatando o bom perfil de segurança e eficácia dessa molécula.
Apesar disso, alguns pacientes podem não se adaptar à atomoxetina por serem portadores de algumas variantes genéticas específicas. Nesses pacientes, a atomoxetina pode acabar por aumentar os riscos do tratamento, em vez de reduzi-los. Por isso, é importante rastrear variantes da farmacogenética da atomoxetina antes de prescrevê-la.
O artigo escolhido para esta semana demonstrou o impacto das combinações de variantes nos genes CYP2D6 e CYP2C19 nas concentrações séricas de atomoxetina. O texto completo pode ser lido aqui.
Impacto do perfil de metabolização em CYP2D6 e CYP2C19
O estudo incluiu 315 pacientes com idades entre 6 e 73 anos que não utilizavam qualquer medicamento que pudesse ter interações medicamentosas com a atomoxetina. Amostras de soro foram coletadas para realizar a dosagem sérica de atomoxetina 4-8h depois da administração do medicamento. Os indivíduos também foram testados para variantes em CYP2D6 e CYP2C19.
Os autores observaram um claro efeito do genótipo de CYP2D6 nas concentrações séricas de atomoxetina. Metabolizadores lentos em CYP2D6 apresentaram concentrações plasmáticas por mg de dose 9,6 vezes maiores do que metabolizadores normais e ultrarrápidos. Já metabolizadores intermediários apresentaram concentrações 1,9 vezes maiores.
Embora a enzima CYP2D6 seja a principal metabolizadora de atomoxetina, CYP2C19 também tem uma participação importante. Isso foi demonstrado neste estudo: portadores da variante CYP2C19*2, que é uma variante de baixa função, apresentaram concentrações séricas de atomoxetina 1,5 vezes maiores por mg de dose, independentemente do genótipode CYP2D6.
O estudo conclui que o rastreio de genótipos de CYP2D6 e CYP2C19 pode ser importante para garantir a segurança do tratamento com Atomoxetina, especialmente em pacientes metabolizadores lentos e intermediários em CYP2D6. O estudo contribui para a compreensão de como essas variações impactam no ajuste de dose do tratamento para TDAH.
Como isto afeta o ajuste de dose?
Esses resultados são importantes para auxiliar no ajuste de dose de atomoxetina em indivíduos portadores de variantes nesses genes.
Os autores sugerem que metabolizadores lentos em CYP2D6 devem receber uma dose de partida de atomoxetina ≤10% daquela metabolizadores normais, e o ajuste de dose deve ser feito com cautela. Já para metabolizadores intermediários, as doses de manutenção devem ser 50% menores do que para metabolizadores normais.
No entanto, na presença do alelo CYP2C19*2, as doses para metabolizadores lentos e intermediários em CYP2D6 devem ser ainda menores. Metabolizadores lentos e intermediários devem receber doses 90% e 65% menores, respectivamente, de atomoxetina, para terem um tratamento tão seguro quanto para metabolizadores normais.
Portanto, o estudo conclui que o rastreio de genótipos de CYP2D6 e CYP2C19 pode ser importante para garantir a segurança do tratamento com atomoxetina, especialmente em pacientes metabolizadores lentos e intermediários em CYP2D6. O estudo contribui para a compreensão de como essas variações impactam no ajuste de dose do tratamento para TDAH.
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