O tratamento do transtorno depressivo maior (TDM) representa um desafio significativo na área da psiquiatria. Sabe-se que somente 37% dos pacientes alcançam a remissão após o primeiro tratamento, e 13% alcançam a remissão apenas após o quarto tratamento prescrito.
Nesse cenário, a farmacogenética tem se mostrado uma ferramenta crucial para melhorar os resultados do tratamento antidepressivo. Recentemente, um estudo clínico inovador, denominado Genomics Used to Improve DEpression Decisions (GUIDED), revelou dados promissores sobre o uso dos testes farmacogenéticos no tratamento da depressão. O artigo pode ser lido aqui.
Vamos explorar os resultados desse estudo e entender como a farmacogenética aplicada à psiquiatria pode mudar a forma como o TDM é tratado.
O estudo GUIDED
O estudo GUIDED é um estudo clínico controlado e randomizado que incluiu 1167 participantes adultos com TDM e com resposta inadequada (falta de eficácia ou eventos adversos) a pelo menos um psicoterápico.
Os participantes foram divididos em dois braços: o grupo experimental recebeu tratamento antidepressivo guiado pelo teste farmacogenético e o grupo controle recebeu o tratamento convencional. Todos os participantes foram submetidos a testes farmacogenéticos, mas estavam cegos para o resultado até a 8ª semana. Após a 8ª semana, o estudo foi aberto, até ser concluído em 24 semanas.
O desfecho primário foi a melhora dos sintomas depressivos, medida através da redução da pontuação na escala Hamilton Depression (HAM-D17).
Os desfechos secundários foram:
Resposta (redução ≥50% da pontuação de HAM-D17, da Quick Inventory of Depression Symptomology [QIDS-C16] ou do Patient Health Questionnaire [PHQ-9]); e
Remissão (escore ≤7 para HAM-D17, ≤5 para QIDS-C16 e <5 para PHQ-9).
Impacto do teste farmacogenético na resposta e remissão de sintomas depressivos
No início do estudo, os participantes incluídos tinham apresentado, em média, 3,51 falhas de tratamentos antidepressivos prévios e cerca de 18% estavam utilizando um medicamento considerado inadequado de acordo com o genótipo.
Os resultados sugerem que os testes farmacogenéticos não apenas aprimoram as taxas de resposta em pacientes com TDM, mas também contribuem para a redução de eventos adversos.
Após 8 semanas de tratamento cego, a resposta e a remissão foram 30% e 50% superiores, respectivamente, no grupo que recebeu prescrição baseada em testes farmacogenéticos. Já a redução dos sintomas foi semelhante entre os dois grupos (27,2% para o grupo com prescrição guiada pelo teste farmacogenético vs. 24,4% para o grupo controle). A melhora dos sintomas, resposta e remissão também aumentaram após o estudo ser aberto na 8ª semana no grupo com prescrição guiada pelo teste farmacogenético, mostrando uma resposta sustentada.
Significativamente, menos pacientes apresentaram eventos adversos quando trocaram de uma terapia inadequada para uma adequada de acordo com as informações farmacogenéticas (6,5%), comparado com aqueles que não descontinuaram a terapia inadequada (16,5%).
Deste modo, os resultados sugerem que os testes farmacogenéticos não apenas aprimoram as taxas de resposta em pacientes com TDM, mas também contribuem para a redução de eventos adversos.
O estudo GUIDED destaca a promissora aplicação dos testes farmacogenéticos na TDM e traz evidências robustas sobre a efetividade dessa abordagem. Com base nisso, testes farmacogenéticos têm o potencial de transformar a decisão de tratamento para pacientes com TDM.
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