Hoje resumimos o artigo “Management of Postpartum Anxiety and Depression: A Narrative Review”, uma revisão narrativa sobre um tema muito importante e nem sempre priorizado da forma devida, por conta da complexidade dessa morbidade materna. Além de outras terapias aqui descritas, a farmacogenética tem um papel relevante no tratamento medicamentoso da ansiedade, depressão e transtorno bipolar. Acessez o artigo na íntegra aqui.
Introdução
O artigo “Manejo da Ansiedade e Depressão Pós-Parto: Uma Revisão Narrativa” aborda a Ansiedade e a Depressão Pós-Parto (ADPP) como causas significativas de morbidade materna, frequentemente subdiagnosticadas e subtratadas. A prevalência dessas condições afeta cerca de 10% a 20% das mulheres grávidas, destacando a necessidade de técnicas de diagnóstico e manejo terapêutico aprimorados. A saúde materna influencia diretamente a saúde do recém-nascido, afetando seu crescimento, desenvolvimento e o vínculo mãe-filho. Mães com depressão pós-parto frequentemente demonstram falta de interesse em seus filhos, sublinhando a importância de compreender a fisiopatologia da doença, incluindo fatores hormonais, desequilíbrios de neurotransmissores, influências genéticas e fatores psicossociais, para desenvolver opções de tratamento eficazes.
Fisiopatologia da ADPP
A fisiopatologia da ADPP envolve uma complexa interação de fatores hormonais, neuronais, genéticos e sociais.
Fatores Hormonais
As alterações hormonais durante a gravidez desempenham um papel crucial na ADPP. Os hormônios estrogênio e progesterona aumentam durante a gravidez e diminuem após o parto. Essa queda nos níveis hormonais pós-parto pode ser um fator importante para o desenvolvimento de transtornos de humor. A progesterona, essencial para a estabilização do humor, tem sua ação nos receptores do ácido gama-aminobutírico (GABA) reduzida, o que diminui a atividade neuronal e causa relaxamento. A diminuição dos níveis de progesterona pode levar à ansiedade e depressão. Além disso, os níveis de cortisol, que normalmente são regulados, podem estar elevados em pacientes com ADPP, aumentando ainda mais o risco dessas condições.
Sistemas de Neurotransmissores
Desequilíbrios nos neurotransmissores também são um fator causativo da ADPP. A diminuição dos níveis de estrogênio após a gestação está associada à redução da atividade serotoninérgica, tornando o estudo da serotonina crucial para entender a ADPP. A dopamina é importante para a compreensão da ansiedade pós-parto, com desequilíbrios associados a essa condição. O aumento da norepinefrina, envolvida na resposta de “luta ou fuga”, também está ligado a transtornos de humor pós-parto. Pacientes com ansiedade pós-parto tendem a apresentar níveis elevados de norepinefrina e aumento da atividade simpática.
Fatores Genéticos e Epigenéticos
Mulheres com histórico familiar de transtornos de humor ou ansiedade são mais propensas a desenvolver ADPP. Variações genéticas no gene transportador de serotonina estão associadas a um risco aumentado de depressão pós-parto. A metilação do DNA e a acetilação de histonas também afetam os transtornos de humor. O estresse pré-natal pode causar disrupções na regulação do humor, predispondo à ADPP se essas disrupções persistirem após a gravidez. Alterações epigenéticas e fatores genéticos podem ser uma das razões por trás da ocorrência de ADPP.
Neuroinflamação
Estudos recentes indicam que a neuroinflamação desempenha um papel na ADPP. Durante a gravidez, a inflamação pode ativar a micróglia, causando alterações nos circuitos responsáveis pelo humor. Marcadores pró-inflamatórios como IL-6 e TNF-α estão elevados em pacientes com ADPP, sugerindo que a inflamação pode ser um fator causal. Estudos em animais demonstraram que processos inflamatórios podem afetar a neurotransmissão de serotonina e dopamina, ligando a inflamação ao início de transtornos de humor pós-parto.
Fatores Psicossociais
Fatores psicossociais desempenham um papel importante no desenvolvimento da ADPP. Mulheres com alto nível de estresse durante a gravidez têm um risco aumentado de desenvolver transtornos de humor pós-parto. A privação de sono, comum no início da gravidez, aumenta os sintomas de depressão. Além do estresse e da privação de sono, o suporte social, o estresse parental, a qualidade do relacionamento marital e os contextos culturais e econômicos mais amplos também são fatores significativos. O suporte social serve como um amortecedor crucial contra o estresse pós-parto, enquanto a falta de suporte eleva o risco de sintomas depressivos e ansiosos.
Diagnóstico Precoce da ADPP
O diagnóstico precoce da ADPP é crucial para o bem-estar da mãe e do filho. Questões de saúde mental perinatal, incluindo depressão pós-parto, ansiedade e transtornos bipolares, afetam um número significativo de mulheres grávidas. As consequências de problemas de saúde mental não tratados incluem suicídio, abuso de substâncias e overdose, sendo uma das principais causas de morte materna. A identificação precoce de sinais como falta de interesse no bebê, sentimentos de sobrecarga, alterações de humor, choro frequente e distúrbios do sono é essencial. O rastreamento para ADPP deve ser realizado em todas as mulheres, com ênfase especial naquelas com gravidez não planejada, histórico de aborto, partos prematuros e bebês com doenças congênitas.
Manejo da ADPP
O manejo da ADPP envolve terapias não farmacológicas e farmacológicas.
Terapias Não Farmacológicas
Várias terapias não farmacológicas têm se mostrado eficazes no tratamento da ADPP, incluindo massagens, psicoterapia (especialmente a terapia cognitivo-comportamental – TCC), exercícios pós-natais, co-parentalidade, uso de óleos essenciais, cuidado canguru e musicoterapia. A estimulação magnética transcraniana (TMS) e a terapia eletroconvulsiva (ECT) também são opções, embora geralmente reservadas para casos mais graves.
Terapias Farmacológicas
A psicoterapia e os antidepressivos são as principais abordagens farmacológicas para o tratamento da ADPP. Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs), inibidores de recaptação de serotonina-norepinefrina (IRSNs) e antidepressivos tricíclicos são comumente prescritos. Sertralina e escitalopram são frequentemente as primeiras escolhas devido ao seu perfil de segurança. Em casos de falha dos ISRSs, a mudança para um IRSN ou mirtazapina pode ser considerada. Brexanolona e zuranolona são neuroesteroides aprovados para o tratamento da ADPP, oferecendo alívio rápido dos sintomas.
Tratamento Personalizado e Educação
A psicoeducação é um componente essencial no manejo da ADPP, capacitando as pacientes com conhecimento sobre sua condição, opções de tratamento e estratégias de enfrentamento. A combinação de psicoeducação com terapia farmacológica garante uma abordagem holística ao cuidado. A psicoeducação pode ser entregue através de aconselhamento individual, sessões em grupo e plataformas digitais.
A FARMACOGENÉTICA no ajuste de doses dos medicamentos
O artigo destaca o potencial da farmacogenética para individualizar o tratamento da ADPP. A farmacogenética pode ajudar a prevenir as falhas do uso de medicamentos por tentativa e erro, ajustando os regimes de tratamento com base na composição genética de cada paciente. Isso pode otimizar a eficácia dos medicamentos e minimizar os efeitos colaterais, proporcionando um tratamento mais personalizado e eficaz.
Conclusão
A ADPP representa um desafio significativo para a saúde e o bem-estar de mães e filhos. Embora tenha havido avanços na compreensão e no manejo dessas condições, mais pesquisas são necessárias. Melhorar a identificação precoce, através de análises hormonais ou testes genéticos para detectar biomarcadores, pode levar a uma melhor previsão e intervenção. A farmacogenética oferece uma alternativa promissora para individualizar o tratamento medicamentoso, e a integração da atenção plena nos cuidados pós-parto pode ser uma importante intervenção preventiva. Ao reconhecer a importância da pesquisa e da colaboração, é possível encontrar as melhores maneiras de tratar e apoiar as novas mães para um futuro saudável para elas e seus filhos.
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