Este artigo aborda a relevância da farmacogenética (PGx) no tratamento de crianças e adolescentes com câncer, destacando que, apesar da existência de diretrizes clínicas baseadas em evidências, essa ferramenta ainda é subutilizada na oncologia pediátrica. A farmacogenética utiliza informações genéticas de um paciente para prever como ele metabolizará ou responderá a certos medicamentos, permitindo uma prescrição mais segura e eficaz. Isso é particularmente importante para pacientes pediátricos com câncer, que frequentemente recebem múltiplos medicamentos e correm alto risco de desenvolver reações adversas graves. 

O estudo teve como objetivo investigar a frequência de fenótipos farmacogenéticos de alto risco e a prescrição de medicamentos relevantes em uma coorte diversificada de pacientes pediátricos com câncer na Austrália. A diversidade genética da população australiana torna importante entender a prevalência desses fenótipos localmente, pois as frequências podem variar entre diferentes grupos ancestrais. 

Para realizar o estudo, foram analisados dados de sequenciamento de genoma completo (WGS) de 180 pacientes pediátricos oncológicos. A análise focou em 14 genes que possuem diretrizes farmacogenéticas relevantes para medicamentos comumente usados no tratamento do câncer infantil, incluindo tanto quimioterápicos quanto medicamentos de suporte (usados para controlar efeitos colaterais, por exemplo). Um fenótipo foi considerado “de alto risco” se houvesse recomendações clínicas para ajustar a dose do medicamento, evitá-lo ou monitorar o paciente de perto com base no perfil genético. Um resultado foi considerado “acionável” se um paciente com um fenótipo de alto risco para um determinado gene recebesse o medicamento correspondente. 

Os resultados do estudo foram notáveis: 

  • Mais de 90% dos pacientes apresentaram pelo menos um fenótipo farmacogenômico de alto risco. 
  • Uma parcela significativa, 20% dos pacientes, possuía quatro ou mais fenótipos de alto risco. 
  • Apenas uma pequena porcentagem (6,7%) não apresentou nenhum fenótipo de alto risco entre os genes analisados. 

Os genes com maior frequência de fenótipos de alto risco foram o CYP2C19 e o CYP2D6. Quase um terço dos pacientes apresentaram fenótipos de alto risco para o CYP2C19 (metabolizadores pobres/intermediários ou rápidos/ultrarrápidos), e quase metade apresentou fenótipos de alto risco para o CYP2D6 (principalmente metabolizadores intermediários/pobres). Outros genes com frequências notáveis de fenótipos de alto risco incluíram o UGT1A1 e o ABCG2. 

A relevância clínica desses achados se torna clara ao analisar os medicamentos comumente prescritos. Medicamentos de suporte como ondansetrona (usada para náuseas e vômitos), omeprazol e pantoprazol (protetores gástricos) e voriconazol (antifúngico) foram frequentemente prescritos na coorte. O estudo encontrou altas taxas de acionabilidade para omeprazol, pantoprazol e voriconazol, indicando que muitos pacientes que receberam esses medicamentos tinham um perfil genético que, segundo as diretrizes, justificaria uma consideração especial na prescrição. A ondansetrona, embora muito prescrita, teve menor acionabilidade pelas diretrizes atuais, que só recomendam ajustes para um subgrupo específico de metabolizadores de CYP2D6. 

Além disso, o estudo destacou a importância de considerar combinações de fenótipos de alto risco. Por exemplo, 30% dos pacientes apresentaram fenótipos de alto risco para CYP2C19 e CYP2D6 simultaneamente. Um subgrupo de 9% dos pacientes apresentou fenótipos de alto risco para CYP2C19, CYP2D6 e ABCG2, o que implica que as recomendações farmacogenéticas se aplicariam a vários medicamentos de suporte comumente usados em pacientes com leucemia/linfoma aguda. 

Com base nesses achados, o estudo argumenta fortemente a favor da implementação de testes farmacogenéticos amplos e preventivos em pacientes oncológicos pediátricos. A alta frequência de fenótipos de alto risco e a acionabilidade observada para medicamentos comuns de suporte e quimioterápicos indicam que a PGx tem um potencial significativo para melhorar a segurança e a eficácia do tratamento nesta população. 

Apesar das limitações, como a complexidade da fenoconversão e a necessidade de validar os resultados em coortes maiores, os achados do estudo reforçam a utilidade da farmacogenética na oncologia pediátrica. 

Conclusão 

O estudo identificou uma alta frequência de fenótipos farmacogeéticos de alto risco clinicamente relevantes em uma coorte diversa de pacientes pediátricos com câncer na Austrália. Essa prevalência, especialmente para genes como CYP2C19 e CYP2D6, tem implicações diretas para a prescrição de medicamentos de suporte e quimioterápicos comumente usados. Os resultados apoiam fortemente a implementação de testes farmacogenéticos amplos e preventivos (antes do início dos tratamentos) em pacientes oncológicos pediátricos para personalizar o tratamento, reduzir o risco de reações adversas a medicamentos e otimizar a eficácia terapêutica. A integração da farmacogenética na prática clínica tem o potencial de melhorar significativamente os resultados para crianças e adolescentes em tratamento oncológico. 

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