O artigo aborda a relevância da farmacogenética no tratamento do acidente vascular cerebral (AVC) e das doenças cardíacas, enfatizando como os avanços na genômica e a compreensão das variações genéticas individuais podem influenciar a eficácia e a segurança dos medicamentos utilizados nessas condições. Através de múltiplos estudos e diretrizes de implementação, como as fornecidas pelas organizações CPIC (Clinical Pharmacogenetics Implementation Consortium) e DPWG (Dutch Pharmacogenetics Working Group), o texto destaca a importância de ajustar as terapias com base no perfil genético do paciente para otimizar os resultados clínicos.
Importância da Farmacogenética no Tratamento do AVC e das Doenças Cardíacas
Historicamente, as terapias antitrombóticas e os anticoagulantes são utilizadas para reduzir o risco de eventos isquêmicos em pacientes com AVC ou doença cardiovascular (DCV). No entanto, há uma variabilidade interindividual significativa na resposta a estes medicamentos, atribuída, em grande parte, a diferenças genéticas. Por exemplo, medicamentos como clopidogrel, aspirina, varfarina e estatinas podem ter sua eficácia e segurança comprometidas dependendo de variantes em genes críticos para o metabolismo e o transporte dos fármacos.
- Clopidogrel e o Enzima CYP2C19:
O clopidogrel é um pró-fármaco que necessita de bioativação pelo sistema do citocromo P450, principalmente pela enzima CYP2C19. Pacientes portadores de alelos de perda de função (LOF), como *2 ou *3, apresentam uma resposta reduzida a clopidogrel, o que pode aumentar o risco de eventos vasculares recorrentes, como novos AVCs ou infarto do miocárdio. O artigo demonstra que a determinação do genótipo do CYP2C19 tem implicações importantes: indivíduos que não metabolizam adequadamente o fármaco podem se beneficiar de terapias alternativas (por exemplo, ticagrelor ou prasugrel) para reduzir o risco de desfechos adversos.
- Varfarina e Variantes dos Genes CYP2C9, VKORC1 e CYP4F2:
A varfarina é amplamente utilizada na prevenção de eventos tromboembólicos, mas sua dosagem é complicada devido ao estreito índice terapêutico. Variáveis genéticas em genes como CYP2C9 e VKORC1, que afetam respectivamente o metabolismo da varfarina e a sensibilidade do organismo à droga, explicam cerca de 30 a 35% da variabilidade na resposta ao medicamento. Estudos clínicos, como o EU-PACT, demonstraram que a utilização de algoritmos baseados no genótipo pode melhorar a manutenção da faixa terapêutica, reduzindo o risco de sangramentos e eventos trombóticos.
- Estatinas e a Variabilidade de Transporte e Metabolismo:
As estatinas, utilizadas para reduzir os níveis de colesterol e prevenir eventos cardiovasculares, também apresentam variação na resposta associada a genes como SLCO1B1 e ABCG2. A presença de variantes nesses genes pode resultar em transporte alterado da droga para o fígado, aumentando os níveis plasmáticos e, consequentemente, o risco de miopatia induzida por estatinas. A identificação prévia dessas variantes pode auxiliar na escolha da dose adequada ou na troca do fármaco, evitando efeitos colaterais adversos.
- Aspirina e a Resistência Aspirínica:
A aspirina, utilizada como antiplaquetário para prevenir eventos trombóticos, pode apresentar resistência em alguns pacientes. A variabilidade genética, incluindo polimorfismos no gene que codifica a COX-1 (PTGS1), pode influenciar a resposta à aspirina. Embora a evidência ainda seja menos robusta em comparação com outros medicamentos, a farmacogenética também pode contribuir para identificar pacientes com maior probabilidade de não responder à terapia convencional com aspirina.
Diretrizes e Implementação Clínica
O artigo ressalta que, apesar de evidências robustas que suportam o uso da farmacogenética – como a associação de variantes genéticas com a resposta a medicamentos – a implementação desses testes na prática clínica ainda é limitada. Diversos fatores contribuem para essa demora:
- Técnicos e Logísticos: A necessidade de resultados rápidos e confiáveis é crucial especialmente em situações de emergência, como em casos de AVC isquêmico. A integração do teste no fluxo clínico e nos protocolos de atendimento a esses eventos ainda representa um desafio. No entanto, como esses medicamentos são ingeridos por logo tempo, a entrega do relatório em 20 dias corridos (prazo da ConectGene) certamente terá grande utilizada nos tratamentos.
- Custos e Infraestrutura: O custo dos testes genéticos e a falta de cobertura pelos planos de saúde, que ainda não conseguiram entender que as reações de medicamentos nesses casos, além de complicar o quadro clínico, muitas vezes geram internações.
- Adaptação dos Profissionais de Saúde: A aceitação e a familiarização dos médicos com as diretrizes de farmacogenética são essenciais para a implementação bem-sucedida, demandando formação e atualização constantes. (A ConectGene auxilia os prescritores na interpretação dos relatórios).
Conclusões e Perspectivas Futuras
Em suma, o artigo enfatiza que a farmacogenética possui um papel fundamental na personalização do tratamento para AVC e DCV. A consideração do perfil genético do paciente permite que a terapia seja ajustada para maximizar a eficácia e minimizar os riscos – desde a escolha do fármaco adequado até a determinação da dose ideal. Essa abordagem não apenas melhora os desfechos clínicos, mas também aumenta a segurança dos pacientes e pode contribuir para a redução dos custos a longo prazo.
Ainda que existam desafios a serem superados, incluindo a necessidade de ensaios clínicos maiores e mais robustos que validem os algoritmos genéticos, as evidências já obtidas são encorajadoras para a adoção do teste. O futuro aponta para um cenário em que a farmacogenética se torna parte integrante do manejo clínico, transformando a prática médica ao oferecer tratamentos mais precisos e adequados a cada paciente.
Portanto, a farmacogenética representa uma ferramenta crucial na era da medicina personalizada, com o potencial de revolucionar o tratamento do AVC e das doenças cardíacas por meio da adaptação individualizada das terapias medicamentosas, garantindo a melhor combinação entre eficácia terapêutica e segurança.
O teste farmacogenético da ConectGene é um painel que avalia 155 medicamentos, inclusive os que foram abordados no estudo que resumimos e comentamos. Confira a qualidade dos nossos relatórios, que prima por analisar genes e medicamentos com elevado nível de evidência científica, pois informações de baixo nível de evidência podem induzir o prescritor ao erro. Além de prestarmos assessoria técnica, sem custo, na interpretação dos laudos, somos o único laboratório que atualiza os relatórios com novos medicamentos e novas evidências publicadas, pelo menos uma vez por ano. Saiba mais em: www.conectgene.com/farmagen
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Ótimo artigo
Obrigado, Dr. Renato! Ajude-nos a divulgar, por favor.