tempo de leitura: 6 minutos.

O artigo que resumimos hoje, intitulado “Um Estudo Transversal Suíço sobre as Perspectivas dos Pacientes em Relação à Gestão da Dor Crônica, Tratamento Analgésico e Suscetibilidade Genética” (acesse o original aqui), publicado em 5.9.2025, oferece informações valiosas sobre o cenário da dor crônica na Suíça, focando no uso de medicamentos influenciados pela farmacogenética (PGx), na satisfação dos pacientes e no interesse em informações genéticas.

1. Contexto e Objetivos do Artigo

A dor crônica é uma condição debilitante que afeta uma parcela considerável da população global e suíça (cerca de 16% dos adultos), e seu tratamento farmacológico é frequentemente complicado pela variabilidade interindividual na resposta aos medicamentos. A farmacogenética (PGx) surge como uma ferramenta promissora para a personalização da terapia da dor, dado que muitos analgésicos têm a sua eficácia e segurança influenciadas por fatores genéticos. No entanto, antes deste estudo, havia uma lacuna de conhecimento sobre a prevalência do uso de medicamentos “acionáveis” pela PGx na Suíça, a perspectiva dos pacientes sobre a gestão da dor crônica e seu interesse em testes genéticos.

Os principais objetivos do estudo foram:

  • Avaliar a proporção de pacientes com dor crônica na Suíça que utilizam ou já utilizaram medicamentos cujas respostas são influenciadas por fatores genéticos (PGx-acionáveis).
  • Examinar a satisfação dos pacientes com a farmacoterapia atual e a percepção de serem levados a sério pelos profissionais de saúde (HCPs).
  • Investigar o nível de conhecimento dos pacientes sobre a PGx e seu interesse em descobrir sua predisposição genética à sensibilidade à dor.

2. Metodologia Utilizada

O estudo empregou um desenho transversal descritivo, conduzido por meio de um questionário online distribuído na região de língua alemã da Suíça. O questionário foi estruturado para abordar quatro temas centrais: dados demográficos (sexo, idade, nível educacional), uso de quatro classes de medicamentos PGx-acionáveis (anti-inflamatórios não esteroides – AINEs, opioides, co-analgésicos como antidepressivos, e inibidores da bomba de prótons – IBPs), satisfação com a terapia e a percepção dos HCPs, e finalmente, a consciência e o interesse na PGx.

Para a seleção dos participantes, foram incluídos indivíduos que auto-relataram dor crônica (com duração superior a três meses), idade mínima de 16 anos e proficiência em alemão. A coleta de dados ocorreu entre dezembro de 2024 e abril de 2025. Dos 863 participantes, 725 completaram integralmente o questionário. As análises estatísticas incluíram estatísticas descritivas (números absolutos, percentuais, medianas) e testes qui-quadrado para identificar associações entre variáveis categóricas, sem correção para testes múltiplos, dada a natureza exploratória do estudo.

O estudo forneceu os primeiros insights representativos e em larga escala sobre o uso de medicamentos analisados por testes farmacogenéticos e os padrões de tratamento no tratamento da dor crônica na Suíça.

3. Descobertas e Resultados Mais Significativos

Os resultados revelaram uma alta prevalência do uso de medicamentos analisados pela farmacogenética atual entre os 725 participantes.

  • Uso de Medicamentos: 85% relataram ter usado AINEs, 54% opioides, 38% co-analgésicos (antidepressivos) e 73% IBPs (terapia adjuvante), seja atualmente ou no passado. Curiosamente, 38% dos participantes não faziam uso de nenhum analgésico no momento da pesquisa, enquanto 63% usavam pelo menos um medicamento PGx-acionável. A monoterapia com AINEs foi o regime de medicamento único mais comum (17%). Houve um uso maior de opioides PGx-acionáveis em comparação com co-analgésicos, o que diverge das diretrizes atuais para dor neuropática.
  • Satisfação com a Terapia e Percepção dos HCPs: Um terço dos participantes (33%) expressou insatisfação com a terapia, e 28% sentiram que não eram levados a sério pelos HCPs. As principais razões para a insatisfação foram a falha terapêutica (26%), reações adversas (16%) ou uma combinação de ambas (50%). Regimes que combinavam opioides com co-analgésicos ou com AINEs e co-analgésicos apresentaram as maiores taxas de insatisfação (71% e 64%, respectivamente), enquanto a monoterapia com co-analgésicos ou a combinação com AINEs mostrou as maiores taxas de satisfação (59% e 56%). Pacientes que se sentiram levados a sério pelos HCPs e pacientes mais velhos (≥ 65 anos) relataram significativamente maior satisfação com a terapia. Não foram observadas diferenças significativas por sexo ou nível educacional.
  • Consciência da PGx e Interesse Genético: Apenas 2% dos participantes foram informados sobre testes PGx por um HCP, e apenas 1,8% os realizaram. No entanto, 60% dos participantes manifestaram interesse em conhecer sua predisposição genética à sensibilidade à dor, mesmo que isso não alterasse seu plano de tratamento. Esse interesse foi notavelmente maior entre os pacientes mais jovens, os insatisfeitos com a terapia e aqueles que não se sentiram levados a sério pelos HCPs.

4. Conclusões e Implicações

Este estudo representa a primeira investigação transversal em larga escala na Suíça a explorar a interseção da gestão da dor crônica, tratamentos analgésicos e suscetibilidade genética. A alta prevalência de uso de medicamentos PGx-acionáveis, combinada com o forte interesse dos pacientes em informações genéticas, sugere um potencial multifacetado para a implementação da PGx no manejo da dor crônica.

As descobertas indicam que a PGx não serve apenas para otimizar a segurança e a eficácia dos medicamentos, mas também possui um valor biopsicossocial significativo. Em um contexto onde a dor crônica pode ser estigmatizada ou tida como “imaginária”, o conhecimento genético pode oferecer aos pacientes uma validação biológica de suas experiências de dor e das respostas ao tratamento, promovendo empoderamento e bem-estar emocional.

O estudo também levanta questões importantes sobre os padrões de prescrição atuais e a adesão às diretrizes clínicas entre os HCPs suíços. Embora haja um grande interesse nos testes PGx, a implementação prática ainda enfrenta barreiras sistêmicas, como a acessibilidade limitada e a falta de integração na rotina clínica. O estudo forneceu os primeiros insights representativos e em larga escala sobre o uso de medicamentos analisados por testes farmacogenéticos e os padrões de tratamento no tratamento da dor crônica na Suíça. Em particular, a alta prevalência do uso de medicamentos analisados pelo teste ​​PGx e o forte interesse dos pacientes em informações genéticas corroboram não apenas o potencial clínico, mas também biopsicossocial, da PGx para o manejo da dor crônica.

O teste FarmaGen Total da ConectGene é um painel que avalia 50 genes e 227 medicamentos inclusive os que foram objetos do estudo que resuminos. Confira a qualidade dos nossos relatórios, que primam por trazer informações farmacogenéticas com elevado nível de evidência científica. Além de prestarmos assessoria técnica, sem custo, na interpretação dos laudos, somos o único laboratório que atualiza os relatórios trimestralmente incluindo novos medicamentos e novas evidências publicadas. Saiba mais em: www.conectgene.com/farmagen  

As informações contidas neste site são fornecidas apenas como divulgação de informações gerais e não substituem o aconselhamento médico profissional, o diagnóstico ou o tratamento de um profissional de saúde qualificado. Sempre procure o conselho de seu médico ou profissional de saúde quando tiver dúvida sobre ingestão de medicamente ou condição de saúde.